A inteligência artificial (IA) está revolucionando diversos setores da sociedade, e a educação não fica de fora. Escolas públicas e particulares em todo o Brasil estão incorporando a IA em suas grades curriculares, preparando os alunos para um futuro onde a tecnologia será ainda mais presente. Neste artigo, exploraremos como as escolas estão utilizando a IA, os desafios enfrentados e os benefícios dessa integração para o desenvolvimento dos estudantes.
A Integração da IA no Ensino Público e Particular
No Piauí, a professora de Biologia Amanda de Sousa utiliza a IA para ensinar seus alunos sobre a fauna e flora da caatinga. Através de atividades que combinam o uso de cartolinas e computadores, os estudantes aprendem a reconhecer características comuns dos animais da região, seguindo a lógica dos algoritmos. Essa abordagem não só torna o aprendizado mais significativo, mas também reforça o pertencimento dos alunos à sua realidade local.
A rede estadual do Piauí já incluiu a IA na grade curricular de cerca de 120 mil estudantes, do 9º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Os alunos aprendem a construir comandos e algoritmos, além de utilizar a IA para identificar fake news, como imagens ou vozes manipuladas. Cada escola tem a liberdade de adaptar as aulas conforme sua realidade e demandas locais, tornando o ensino mais relevante e contextualizado.
A IA nas Escolas Particulares
Enquanto no ensino público a IA ainda está em fase de implementação, nas escolas particulares a tecnologia já é uma realidade mais consolidada. Na Beacon School, em São Paulo, a IA é introduzida de forma progressiva, começando nos anos iniciais do ensino fundamental com conceitos básicos e sendo aplicada de maneira transversal em diversas disciplinas.
Nas aulas de Artes, a IA generativa é utilizada para criar imagens; em História, ajuda na análise de fontes e informações; e em Matemática, é aplicada na criação de prompts, que são comandos de programação. Em Português, o recurso é empregado para a produção de textos e para identificar problemas como falta de profundidade, repetições e argumentos circulares, desenvolvendo um olhar crítico sobre o uso da tecnologia na escrita.
Desafios e Oportunidades no Uso da IA na Educação
Um dos principais desafios no uso da IA na educação é garantir que a tecnologia seja utilizada de forma ética e responsável. Doug Alvoroçado, professor e consultor em transformação digital, ressalta a importância de a escola assumir o papel de irradiadora de cultura, estando sempre atualizada com as tendências e inovações do seu tempo.
No Colégio Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, a IA é uma das disciplinas do curso técnico de Automação Industrial. O professor Lucas Chao explica que algoritmos ajudam a criar soluções inteligentes em projetos como o braço robótico, que pode ser um instrumento para acessibilidade. No entanto, ele alerta para o risco de a IA substituir atividades que colaboram com o desenvolvimento de habilidades técnicas e socioemocionais, levando os estudantes a priorizar o desempenho imediato em vez da aprendizagem significativa.
Formando Solucionadores de Problemas
Na FIAP School, os alunos do 7º ano foram desafiados a construir um veículo espacial que funcionasse com controle remoto. Utilizando o ChatGPT, os estudantes criaram imagens em 3D que guiaram a construção do protótipo com equipamentos como impressora 3D e cortadora a laser. Esse tipo de atividade não só desenvolve o raciocínio lógico dos alunos, mas também os prepara para serem solucionadores de problemas no futuro.
A IA está presente em duas disciplinas de tecnologia da FIAP School, oferecidas desde o 1º ano do ensino fundamental. Nos anos iniciais, as atividades são mais lúdicas, enquanto nas séries finais são introduzidos conceitos mais técnicos, como machine learning e redes neurais artificiais. Em comum, em todos os ciclos, há a preocupação com o desenvolvimento do raciocínio lógico dos estudantes.
A Importância da Ética no Uso da IA
O Secretário de Educação do Piauí, Washington Bandeira, reforça que as questões éticas devem ser abordadas no conteúdo de IA. Ele destaca que o currículo inclui não apenas o aprendizado de máquina, mas também a educação midiática e a discussão sobre a precisão dos dados. É fundamental que os alunos entendam os riscos e benefícios da IA, desenvolvendo um pensamento crítico sobre o uso da tecnologia.
Preocupações com o Uso da IA na Educação
Leo Burd, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e presidente do conselho da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC), alerta para o risco de a IA ser utilizada para reforçar um modelo educacional ultrapassado, onde o professor transmite conhecimento e o aluno fica no papel de receptor. Ele defende que a IA deve ser empregada para garantir a transformação de um modelo de educação em que o professor se torne facilitador de experiências de aprendizagem, desafiando os alunos a expressar ideias, dúvidas e criar projetos conectados com a sua realidade.
Outra preocupação de Burd é com a base de dados em que a IA é construída, que pode reforçar vieses. Ele questiona que versão da história do Brasil foi incorporada, que visão de religião e se há dados representativos de diferentes comunidades e ideologias. Para ele, as ferramentas ainda não estão maduras o suficiente e há um viés questionável que precisa ser discutido.